Capsulite Adesiva ou Ombro Congelado
Leonardo Cavinatto
O Que é Capsulite Adesiva e por quê ela ocorre?
Capusulite Adesiva ou Ombro Congelado é uma doença que se caracteriza pela dor e pela perda da movimentação na articulação do ombro. O processo da doença envolve o espessamente e a contratura da cápsula articular e das estruturas ao redor da articulação do ombro, e por isso ocorre dor e limitação dos movimentos. Antes da cápsula espessar e contrair, ocorre um intenso processo inflamatório local, e é essa a razão da dor.
A doença acomete aproximadamente 3% da população e é mais comum em mulheres entre 40 e 60 anos de idade, apesar de também poder acometer homens e pessoas de outras faixas etárias. O ombro contralateral (do outro lado), pode desenvolver a doença em até 20% dos casos.
Não se sabe ao certo qual a causa da capsulite adesiva, mas uma das hipóteses é que fatores auto-imunes estejam envolvidos, e por isso ela é mais comum em pacientes diabéticos e em pacientes com doenças da tireóide. Sabe-se também que fatores emocionais podem estar envolvidos na gênese da doença.
Como se comporta a doença e quais são os sintomas?
A doença, basicamente, está dividida em 3 fases: inflamatória, rigidez e descongelamento.
A primeira fase da doença (inflamatória), dura de 3 a 6 meses e se caracteriza pela inflamação da cápsula e das estruturas ao redor da articulação do ombro. Nesta fase, o sintoma principal é a dor, que se inicia de forma leve, mas pode progredir para uma intensidade mais forte. Tipicamente, os pacientes descrevem esta dor como apenas um desconforto no ombro quando o braço está parado, mas que piora muito na tentativa de realizar movimentos com o braço, principalmente os movimentos bruscos. Frequentemente, os pacientes também se queixam de dificuldade para dormir em função da dor no ombro. Nesta fase, a Capsulite Adesiva pode ser confundida com outras doenças em que a dor no ombro é o sintoma principal, como bursites e tendinites, e é importante a avaliação do paciente por um profissional competente e habilitado.
A segunda fase da doença (rigidez), dura de 4 a 12 meses. A dor, que antes era o principal sintoma, tende a diminuir. A movimentação do ombro, porém, fica restringida, e simples atividades como coçar as costas ou pentear o cabelo podem tornar-se tarefas difíceis. A dificuldade para dormir ainda pode ser um problema.
A última fase (descongelamento), tem uma duração muito variável, e pode durar meses ou até anos. A limitação da movimentação do ombro vai gradualmente voltando ao normal com o decorrer do tempo. Uma pequena perda ao final do movimento, no entanto, pode persistir.
Como fazer o diagnóstico do ombro congelado?
Quando a doença encontra-se na primeira fase (inflamatória) e o paciente apresenta principalmente dor no ombro, mas ainda não apresenta limitação da sua mobilidade, a doença pode ser confundida com uma bursite ou tendinite do ombro e até com uma lesão do manguito rotador, mesmo com a complementação de exames de imagem. Apesar de nesta fase o diagnóstico não ser fácil de ser feito, detalhes no exame físico e nuances na história, complementados por exames de imagem, pode levar à detecção da doença ainda em seu estágio inicial.
Quando a doença já se encontra numa fase mais avançada, na qual o ombro apresenta uma diminuição da amplitude de movimento (está rígido), o diagnóstico pode ser feito de forma mais descomplicada. Entretanto, cabe ressaltar que o diagnóstico é feito sempre a partir da história do paciente, exame físico e exames de imagem complementares. A capsulite adesiva não é a única doença que causa dor e rigidez no ombro. Outras patologias, a exemplo da artrose do ombro, sequelas de fraturas ou aderências pós-operatórias também podem apresentar quadro clínico semelhante.
Os exames de RX e ultrassonografia são úteis para afastarem outras doenças no ombro que cursam com dor e diminuição dos movimentos, mas tais exames não mostram as alterações anatômicas da Capsulite Adesiva, que são o espessamento e a contratura da cápsula. O exame de ressonância magnética, apesar de não ser indispensável para o diagnóstico, pode dar mais detalhes da doença e mostrar possíveis lesões associadas. No entanto, nem sempre vem descrito nos laudo do exame as alterações correspondentes à capsulite adesiva, que majoritariamente são alterações no intervalo dos rotadores e edema no recesso axilar. Em função disso, não é incomum o paciente com capsulite adesiva do ombro ser tratado com tendinite ou bursite.
Qual é o tratamento para a capsulite adesiva ou ombro congelado?
A capsulite adesiva tem bons resultados com o tratamento conservador (não cirúrgico) na grande maioria dos casos e apenas uma pequena parcela dos pacientes (ao redor de 5%) vão necessitar de cirurgia.
Tratamento não cirúrgico (conservador)
Na fase inicial da doença (inflamatória), analgésicos, antiiflamatórios e compressas de gelo são a base do tratamento. Nesta fase, o paciente precisa mais do que tudo melhorar a dor e controlar a inflamação, enquanto alongamentos excessivos podem inclusive piorar os sintomas e aumentar o processo inflamatório e a duração da doença. Ainda nesta fase, medicamentos da classe dos corticóides, administrados tanto por via oral quanto por injeções intramusculares são terapias usadas para a melhora da dor e da mobilidade. Uma outra maneira de se utilizar corticóides é através de sua infiltração no espaço intrarticular. Deixar o medicamento agir diretamente no cerne da inflamação traz um alivío mais consistente dos sintomas e também encurta o tempo da doença. Estudos comparativos mostram um resultado superior da infiltração intrarticular em relação aos corticóides de ação sistêmica ( administrados por via oral ou por via intramuscular).
Na fase de rigidez da doença, exercícios para alongamento e ganho da movimentação passam a ser primordiais. O acompanhamento desses exercícios por um fisioterapeuta costuma evoluir com melhores resultados.
Tratamento cirúrgico
Quando a rigidez e diminuição dos movimentos do ombro persiste, apesar de exercícios de alongamentos por um período prolongado, a cirurgia está indicada. Importante salientar que a cirurgia só deve ser realizada quando o paciente já passou da fase inflamatória da doença, quando os sintomas de dor já melhoraram e a principal queixa passa a ser a rigidez do ombro.
Quando indicado, o procedimento cirúrgico é realizado por artroscopia do ombro. Nesta técnica minimente invasiva, a cápsula e outras estruturas espessadas e contraídas são visualizadas e liberadas, e o paciente tem um ganho imediato da movimentação. Após a cirurgia, porém, para evitar que a capsula cicatrize de maneira contraída, uma boa fisioterapia torna-se necessária.